Mal dá tempo de Martha e Sean, o casal central desse drama “Pieces of a Woman” (disponível na Netflix), serem apresentados, e o diretor Kornél Mundruczó já os joga em uma longa cena em plano-sequência de um parto doméstico que termina em tragédia. Angustiante e tensa, a abertura é a melhor coisa da estreia em Hollywood desse diretor húngaro
Mundruczó filma com elegância e esmero a trama de um casal que precisa lidar com a morte repentina da filha recém-nascida, mas a produção assume um tom de frieza que causa mais distanciamento do que propriamente uma reflexão sobre luto e perda.
Diante do clima cinza e gélido da narrativa, potencializado pela postura firme e lacônica de Martha (vivida com intensidade por Vanessa Kirby, uma atriz que, até então, não tinha tido uma grande oportunidade no cinema), o longa acaba sendo sustentado pelo ótimo elenco.
Enquanto Kirby (vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e forte concorrente ao Oscar) assume uma postura quase passiva diante da dor, Shia Labeouf toma para si a fúria e a tristeza e é o principal elo da trama com o público. O resto do elenco também é competente e adota um estilo naturalista, da matriarca da família que busca por justiça (vivida com grandeza por Ellen Burstyn), até a parteira responsável ou não pela morte do bebê (Molly Parker em uma participação pequena e emocionada).
São os atores que dão vida a essa trama que parece dividida entre uma abordagem mais melodramática e uma encenação mais pretensamente intelectual e que, às vezes, se perde em subplots desnecessários que apenas afastam os personagens e o espectador da trama central. O resultado por vezes é cru e direto demais, carecendo um pouco de dramaticidade, ainda que algumas cenas entreguem a explosão de sentimentos esperada pelo público, como o conflito entre mãe e filha em uma reunião em casa ou o discurso de Martha no tribunal já quase no final do filme.
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