
Apesar de fuder minha vida ao criar expectativas românticas impossíveis, eu amo a Meg Ryan e sinto falta dela. Graças ao sucesso de “Harry & Sally” Feitos um para o Outro”, a atriz virou o símbolo das comédias românticas na década de 1990. Com seus grandes olhos azuis, sorriso largo e jeito despojado, Ryan engatou uma produção do gênero atrás da outra, sempre interpretando a garota ingênua em busca do par perfeito.
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A lista de comédias românticas estreladas pela atriz é grande e nem todas são bem-sucedidas. Além de “Harry & Sally”, ela protagonizou “Joe Contra o Vulcão”, “Por trás Daquele Beijo”, “Sintonia de Amor”, “A Teoria do Amor”, “Surpresas do Coração”, “A Lente do Amor”, “Mensagem para Você” e “Kate & Leopold”, dividindo a tela como par romântico com Tom Hanks, Alec Baldwin, Tim Robbins, Kevin Kline, Matthew Broderick e Hugh Jackman.
Meg Ryan até tentou se desvencilhar da imagem de boa moça em produções como “The Doors”, “Quando um homem ama uma Mulher” e “Coragem sob Fogo”, por exemplo, mas foi difícil para Hollywood não vê-la como “a namoradinha da América”.
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Talvez por isso sua carreira tenha mudado de direção no começo dos anos 2000. Além de ter tido um caso com Russell Crowe nos bastidores do filme “Prova de Fogo”, culminando no polêmico divórcio do ator Dennis Quaid, Ryan envelheceu, perdendo o posto de queridinha das comédias românticas para atrizes mais novas, como Reese Whiterspoon, Kate Hudson, Jennifer Lopez e outras. As comédias românticas também foram perdendo o sentido em uma sociedade que começou a repensar os clichês em relação ao comportamento dos homens e mulheres.
Com a carreira em baixa, os bons papéis começaram a sumir e o último filme minimamente relevante que a atriz fez foi “Mulheres: O Sexo Forte”, que fracassou nas bilheterias e foi massacrado pela crítica. Mas, antes de sumir e praticamente desistir da carreira, Ryan tentou, seja interpretando uma mulher sexy e aparecendo nua no suspense “Em Carne Viva”, seja chegando mesmo a estrear na direção com um filme que mal foi lançado e ninguém viu, o drama “Ithaca”.
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Meg Ryan chega aos 60 anos neste 19 de novembro como mais uma das vítimas da estrutura machista da indústria do cinema. Ainda assim, ela deixou a sua marca e é uma das grandes estrelas da década de 1990. Eis meus 60 anos em 6 filmes da atriz:

Harry & Sally: Feitos um para o Outro (1989) – Dirigido por um Rob Reiner que tenta emular o melhor do Woody Allen, essa comédia romântica sobre dois amigos que acabam se apaixonando é uma delícia, Além do ótimo roteiro e diálogos inspiradores escritos por Nora Ephron, roteirista dos maiores sucessos de Meg Ryan, a química entre a atriz e Billy Crystal é perfeita. Com mais de 30 anos nas costas, claro que o filme derrapa na representação dos clichês das relações entre homens e mulheres, mas esse é apenas um pequeno porém em um dos filmes-base de um gênero que estava no seu auge na década de 1990.

Sintonia de Amor (1993) – Dirigido e roteirizado por Nora Ephron, mais uma vez o longa carrega no uso e abuso dos clichês em relação ao comportamento de homens e mulheres. Mas, também mais uma vez, o texto de Ephron é intocável e cheio de preciosidades. A comédia romântica ainda consegue funcionar muito bem mesmo com o casal mal se encontrando, apelando para uma ingenuidade pouco crível nos dias de hoje. Mesmo com poucas cenas juntos, Tom Hanks e Meg Ryan estabelecem uma bela química apenas com trocas de olhares.

Quando um homem ama uma mulher (1994) – Esse dramão está longe de ser um bom filme, sendo simplista e explorando de forma superficial e novelesca um tema importante: o alcoolismo. Mas o longa vale porque é um raro exemplo de Meg Ryan saindo da zona de conforto. A atriz vive uma mãe que coloca o casamento e a maternidade a perder por conta do vício em álcool. Às vezes, o longa foge do tema central, focando no romance e se demorando demais no papel do marido (Andy Garcia), mas Ryan está muito bem e mostra uma versatilidade que Hollywood, infelizmente, pouco explorou.

Mensagem para Você (1998) – Mais uma vez Tom Hanks e Meg Ryan provam serem um dos melhores pares do cinema nessa comédia que explora os relacionamentos virtuais (bem diferentes dos atuais) e o avanço avassalador do capitalismo (claro que de forma superficial). Hanks e Ryan vivem dois concorrentes que se detestam, mas não sabem que se correspondem anonimamente em uma espécie de avó das redes sociais. Em mais um filme dirigido e roteirizado por Nora Ephron, Meg Ryan exala charme e faz uso do seu habitual humor quase físico.
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Cidade dos Anjos (1998) – Análises estéticas à parte, gostar ou não de um filme está relacionado, principalmente, ao momento em que você o assiste a primeira vez. Em 1998, eu tinha 22 e fui ver esse longa no cinema com a minha mãe. Na época, eu era um poço de ingenuidade; a Meg Ryan era linda e a atriz mais bem paga de Hollywood; e o Nicolas Cage ainda estava no auge. Dito isso, eu deixei de lado todos os erros do roteiro (simplista e mal construído) e me entreguei a esse romance esotérico entre um anjo e uma médica. Parte da culpa foi da boa química entre Ryan e Cage e do olhar delicado do diretor que cria belas cenas dos anjos em cima de prédios ou se reunindo na praia ou em bibliotecas. As imagens de Ryan com o rosto ensolarado também ganharam meu coração. O filme é um remake do alemão e bem mais filosófico “Asas do Desejo”, do Wim Wenders.

Em Carne Viva (2003) – Meg Ryan vive seu papel mais fora da curva nesse thriller erótico que poderia muito bem ser estrelado por Sharon Stone. A diretora e roteirista Jane Campion está bem menos interessada no suspense e na trama envolvendo um serial killer e mais em criar um estudo de personagem. Ryan é uma professora que acaba se envolvendo em uma sucessão de assassinatos e com um policial por tabela (Mark Ruffalo). Com ajuda da bela fotografia de Dion Beebe, Campion sabe criar clima, misturando cores estouradas e sombras, muitas vezes escondendo protagonista no escuro ou em cenas desfocadas. Na época do lançamento, a produção chamou mais atenção pelo fato de Meg Ryan protagonizar (com naturalidade) cenas de sexo e nudez.
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