
Eu não acredito que a Winona Ryder está completando 50 anos nesta sexta (29). Eu cresci nos anos 80 e 90, então, na minha cabeça, a atriz segue sendo a adolescente que virou promessa e conquistou Hollywood graças aos sucessos de “Os Fantasmas se Divertem”, “Atração Mortal” (o pai de “Meninas Malvadas”) e “A Fera do Rock”.
Mas, óbvio, Winona Ryder é humana e, como todos nós, envelhece. Hollywood, claro, não sou muito bem o que fazer com uma Winona de 30 anos e, na virada dos anos 2000, em meio à polêmica envolvendo um furto em uma loja de roupas, a atriz perdeu o protagonismo para nomes mais jovens (entre elas Angelina Jolie, que a ofuscou em “Garota, Interrompida”, por exemplo).
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O auge de carreira de Winona Ryder foi mesmo na virada da década de 80 para os anos 90, quando a atriz emprestou seu talento, juventude e rosto marcantes para grandes cineastas, engatando trabalhos com nomes importantes como Tim Burton, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Jim Jarmusch, Woody Allen etc.
Ainda nos anos 90, a atriz virou símbolo da geração perdida embalada pela música e edição frenética da MTV no divertido “Caindo na Real” e protagonizou outros sucessos e filmes elogiados pela crítica como “Adoráveis Mulheres” e “As Bruxas de Salem”. Winona também se aventurou, sem muito êxito, pelo universo dos blockbusters em “Alien, a Ressureição”.
Fracassos e escolhas erradas como “Outuno em Nova York”, o terror “Dominação” e a sci-fi “Simone” ajudaram o público a esquecê-la e, nos últimos anos, sua filmografia é marcada por produções menores ou pequenas participações em longas de sucesso: o remake de “Star Trekk”, o oscarizado “Cisne Negro” (em que ela brinca com a ideia de ter se tornado obsoleta) ou mesmo a bem-sucedida série da Netflix, “Stranger Things”, em que Winona Ryder vira coadjuvante de um grupo de adolescentes.
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Com duas indicações aos Oscar, uma juventude polêmica com direito à tatuagem com seu nome na pele de Johnny Depp, Winona Ryder chega aos 50 anos com a carreira ainda marcada pelas glórias do passado, entre elas dois dos meus filmes preferidos da vida.
A seguir, meus cinco filmes (mais um bônus) preferidos da Winona Ryder:

– Minha Mãe é uma Sereia (1990) – O filme é uma delícia, ainda que tenha uma trama bem ingênua. Uma mãe solteira e à frente do seu tempo (uma divertida Cher) precisa cuidar das duas filhas, a adolescente (Ryder) que ora quer virar freira, ora quer se jogar nos braços de um jardineiro e a caçula (a descoberta Christina Ricci) que só pensa em nadar. Em meio a conflitos entre mãe e filha em pleno anos 1960, o longa consegue se desvencilhar bem de uma abordagem mais conservadora, abrindo espaço para um toque levemente feminista e a ótima química entre as atrizes. Winona Ryder está ótima como a adolescente rebelde que não se dá muito bem com a mãe e que narra a história.

– Edward Mãos de Tesoura (1990) – Antes de ser engolido pelas engrenagens de Hollywood, Tim Burton dirigiu um de seus melhores filmes, uma propaganda da Avon disfarçada de uma versão lúdica do monstro de Frankenstein. Com uma ótima direção de arte e uma bela trilha sonora de Danny Elfman (um de seus colaboradores habituais), Burton cria um clássico que fala sobre ingenuidade, ganância, abuso e exploração em um filme que começa leve e colorido e ganha ares mais sombrios à medida em que a trama se desenrola. Winona Ryder vive o par romântico do esquisito Edward (um papel que definiria a carreira de Johnny Depp), mas a atriz aparece menos do que minha memória lembrava, perdendo espaço para as ótimas Dianne Wiest e Kathy Baker.

– Drácula (1992) – Eu poderia simplesmente dizer que esse é um dos meus filmes preferidos, mas eu vou adiante e polemizar dizendo que, mesmo com defeitos, ele é o melhor trabalho do Francis Ford Coppola (não troco ele por nenhum “O Poderoso Chefão” ou “Apocalipse Now”). Nem a atuação fora do tom de Anthony Hopkins, nem a peruca grisalha do Keanu Reeves (que fica mais branca ou preta sem explicação) ou a subtrama chatinha do personagem do Tom Waits conseguem macular essa preciosidade dirigida da forma mais operística, afetada e melodramática por Coppola. O diretor usa sombras, névoas e tecidos esvoaçantes para criar um filme suntuoso, sexy, romântico e mórbido centrado em belas imagens e nas ótimas atuações de Gary Oldman e Winona Ryder.

– A Época da Inocência (1993) – Eu amo esse filme desde a primeira vez que o vi nos cinemas, com 17/18 anos. Na época, eu fiquei impressionado com a suntuosidade dessa história de amor impossível entre um advogado tradicionalista e uma mulher divorciada e mal vista pela rígida sociedade novaiorquina do final do século XIX. Dos belíssimos créditos de abertura desenhados pelo Saul Bass, passando pela narração impecável e quase literária de Joanne Woodward, todos os elementos do filme me fizeram um apaixonado pelo trabalho mais polido da filmografia de Martin Scorsese. Mas por trás de toda a delicadeza da encenação, o cineasta cria um retrato cruel de uma sociedade refém das aparências. A linda trilha sonora emula todas as emoções que as personagens não podem expressar e, por trás da direção de arte e figurinos rebuscados, temos um elenco dos sonhos sofrendo por causa de meras convenções: um Daniel Day-Lewis mais lindo do que nunca; uma Michelle Pfeiffer maravilhosa em suas expressões e gestos; e uma Winona Ryder (indicada ao Oscar pela primeira vez) dissimulando inocência.

Caindo na Real (1994) – A trama não é nada nova: os conflitos de jovens chegando à vida adulta. Mas o elenco (Winona Ryder, Ethan Hawke e seu cabelo oleoso, Jeneane Garafalo, Steve Zahn e um, na época, bonito Ben Stiller) e a roupagem “MTV” dão charme e vida aos dramas de uma geração que ficou perdida entre os yuppies e os millenials. O longa pincela várias questões desde a expectativas e frustrações profissionais à identidades e romances mal resolvidos e virou marca registrada dos jovens dos anos 1990. No fundo, é uma comédia romântica com uma pegada grunge e ótima trilha sonora.
Bônus:

– As Bruxas de Salem (1996) – Winona Ryder vive uma garota que, por causa de uma paixão por Daniel Day-Lewis, desencadeia uma onda de histeria em uma pequena vila, levando vários de seus cidadãos à morte graças a uma série de acusações de envolvimento com o Diabo. Baseado em uma peça de Arthur Miller, o filme usa a trama como metáfora para o mundo moderno. Lançado em 1996, o longa segue atual até hoje graças à disseminação de fake news via redes sociais. Dirigido com competência por Nicholas Hytner, o longa traz um ótimo elenco e uma Winona Ryder em um dos seus papéis mais odiáveis.
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