
Eu amo os filmes de Denis Villeneuve, em especial suas sci-fis. Depois do filosófico “A Chegada” e do contemplativo “Blade Runner 2049“, o cineasta virou o nome perfeito para comandar uma nova adaptação do clássico “Duna”, já levado às telas, de forma mambembe, por David Lynch há quase 40 anos.
Não li a obra de Frank Herbert, então não posso julgar a adaptação literária, mas a trama parece melhor desenvolvida do que no longa de Lynch, ainda que o universo em que a história se passa não pareça muito explicado. O enredo do filme, inclusive, não foge muito da mais do que tradicional mitologia do messias já contada e recontada à exaustão pela literatura, cinema, televisão e por aí vai.
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Em um universo confuso comandado por um Império que só é mencionado, um planeta fica encarregado de cuidar da exploração de uma especiaria de um outro planeta específico com dunas mortais e vermes assassinos. No meio dessa trama política e conspiratória, o jovem Paul Atreides pode ou não ser o salvador de uma profecia milenar. Nada muito diferente, com algumas variações, de “Star Wars“, “O Senhor dos Anéis”, “Matrix” ou a franquia “O Exterminador do Futuro“.
Mas Denis Villeneuve assume a direção da epopeia menos interessado na história e mais na encenação imponente. Como ficou evidente em “A Chegada” e mesmo “Blade Runner 2049”, o cineasta sabe criar clima e compor imagens deslumbrantes de cair o queixo (a fotografia é cortesia de Greig Fraser, de “O Brilho de uma Paixão” e “Lion”).

Com um ótimo senso visual, Villeneuve transforma a obra de Frank Herbert em um épico espacial de grandes dimensões, com cenários enormes onde tudo ganha uma escala grandiosa. Dos efeitos especiais à trilha sonora pulsante de Hans Zimmer, todos os elementos estão a favor dessa experiência audiovisual exagerada e hiperbólica.
Uma das escolhas acertadas do longa é não querer contar toda a trama do livro em um filme de duas horas e meia (um dos erros da produção bagunçada de David Lynch). Usando o tempo disponível para apresentar personagens e estabelecer a atmosfera do longa, Denis Villeneuve dirige um longa ambicioso narrativa e esteticamente, terminando a trama no ponto certo para despertar o interesse e a vontade por uma continuação.
Com um grande elenco em que vários nomes dão as caras apenas em poucas cenas (de Zendaya a Javier Bardem, de Josh Brolin a Charlotte Rampling), “Duna” foca suas lentes na relação entre mãe e filho, muito bem defendidos por uma ótima Rebecca Ferguson e um Timothée Chalamet que não tem muita cara de herói, mas também não atrapalha.
Com um ritmo mais contemplativo que pode desagradar quem busca uma sci-fi com ação desenfreada, “Duna” se alonga um pouquinho já na sua parte final e escorrega também ao tenta inserir (de forma um tanto desnecessária) o típico humor do cinema hollywoodiano. Mas são apenas pequenos poréns em um filme maior que grita sua pretensão e seriedade em cada (bela) imagem.
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