Mais do que uma ótima atriz, Tilda Swinton é uma alienígena. Dona de um corpo esguio, voz marcante e rosto expressivo, ela é a moldura perfeita para qualquer tipo de papel. Seja interpretando uma mulher abastada que se apaixona pelo amigo do filho, uma advogada corporativa sem escrúpulos ou uma alcoólatra que sequestra uma criança para resolver seus problemas financeiros, Swinton é capaz de interpretar qualquer personagem e navega com precisão entre diversos tipos.
Hollywood logo percebeu que sua beleza estranha caía bem em papéis exóticos, dando a atriz uma fileira de personagens excêntricos. Tilda já foi vampira, alienígena, um anjo caído, feiticeira, bruxa, líder de culto, dondoca, uma mãe culpada pelo comportamento do filho assassino, já foi homem e já foi mulher, sempre demonstrando total domínio de cena. Não à toa, a atriz já emprestou seu talento para uma variedade de diretores, gente como David Fincher, os irmãos Coen, Cameron Crowe, Spike Jonze, Jim Jarmusch, Wes Anderson, Luca Guadagnino, Joon-ho Bong, Danny Boyle, Terry Gilliam, Sally Potter e Pedro Almodóvar (no aguardado curta “A Voz Humana”). Até o universo Marvel se rendeu à atriz!
Tilda Swinton completa 60 neste 5 de novembro mais diva do que nunca como ícone fashion e uma das atrizes mais interessantes do cinema recente. Meus preferidos dela são:
Orlando, a Mulher Imortal (1992) – Sally Potter opta por um tom teatral nessa adaptação da obra da cultuada Virginia Wolf. Nem sempre a abordagem funciona, com a empostação do texto quase massacrando a narrativa, que vai perdendo força até se recuperar quando a personagem se transforma. Potter compensa essa falha com uma encenação que é um desbunde, esbanjando estilo e ostentação em belos cenários, figurinos e fotografia, além da trilha sonora que engrandece as cenas. Outro acerto da cineasta é a escolha perfeita da maravilhosa Tilda Swinton para emoldurar o longa, que conta a trama de um rapaz imortal que, em determinado momento, transforma-se em mulher. Nesse exercício (às vezes tedioso) de erudição e luxo, a diretora usa a androgenia de Swinton para discutir questões sobre o feminino e masculino.
Conduta de Risco (2007) – A trama desse thriller corporativo é confusa, mas Tony Gilroy dirige com entusiasmo e consegue prender a atenção graças à edição quase cirúrgica. O destaque, no entanto, é o elenco que consegue convencer mesmo com os diálogos difíceis. Mesmo com um papel pequeno e que merecia mais destaque, Tilda Swinton está ótima como uma advogada sem escrúpulos e preocupada com sua imagem, tendo recebido seu único Oscar, como atriz coadjuvante. Só isso já torna o filme memorável..
Julia (2008) – Tilda Swinton mostra mais uma vez sua versatilidade nesse suspense sobre uma mulher alcoólatra e sem rumo na vida que, em um ato desesperado, sequestra um garoto para conseguir algum dinheiro. O filme não foge muito do convencional e, depois de apresentar a personagem e estabelecer a trama, foca suas lentes na relação que se constrói entre Julia e a criança. O diretor Erick Zonca parece apaixonado demais por Julia/Tilda e alonga o filme ao máximo, mas ainda assim consegue estabelecer tensão e suspense, mesmo entregando o típico desfecho hollywoodiano de redenção. Pouco importa: o show é mesmo de Tilda Swinton, ora perdida e covarde, ora visceral e corajosa, mas sempre marcante.
Um sonho de amor (2009) – Antes de ficar conhecido do grande público por causa de “Me Chame Pelo Seu Nome”, Luca Guadagnino já demonstrava apego pela encenação nesse drama exuberante. Muito mais do que no desenrolar da trama, o cineasta está interessado em criar uma mise-en-scène deslumbrante que represente o ambiente chique e luxuoso que rodeia os personagens, uma família abastada italiana em volta com uma venda da empresa de confecções. Guadagnino se perde entre os belos vestidos, cenários e pratos gastronômicos e quase deixa de lado a trama da matriarca que se apaixona pelo amigo de um dos filhos. Essa escolha da estética acima da narrativa pode desagradar quem vê um filme pela história, mas é um desbunde de beleza, ainda mais porque é amparada por uma Tilda Swinton luminosa e que faz um bom uso da sua persona fashionista. Leia mais
Precisamos Falar sobre Kevin (2011) – A cor vermelha persegue Tilda Swinton nesse drama difícil sobre a falta de conexão entre uma mãe e um filho que acaba em tragédia. A atriz vive aqui uma mulher destruída, primeiro pela maternidade e depois pelos atos violentos do filho. Entre idas e vindas da narrativa, essa mulher passa o filme inteiro tentando limpar o vermelho cor de sangue impregnado em suas paredes. A diretora Lynne Ramsay filma tudo com vontade e não julga essa mãe que nada parece sentir pelo filho, mas que se sente culpada pelo comportamento do mesmo e já aceitou passivamente o seu lugar no inferno. Duro e incômodo, o longa recaí sobre os ombros de Swinton, que, provavelmente, não foi indicada ao Oscar pelo conteúdo pesado da produção.
Amantes Eternos (2013) – Tilda Swinton como uma vampira descabelada e cheia de questões existenciais. Só isso já vale esse filme de Jim Jarmusch, que transforma a atriz (juntamente com Tom Hiddleston) em uma vampira entediada e quase ética. Nem tudo funciona nesse drama existencialista e lento que retrata as figuras da noite como intelectuais com cara de astros de rock. Por vezes, o ritmo é vagaroso demais e a entrada da irritante personagem de Mia Wasikowska causa uma ruptura estranha ao longa, mas é uma delícia ver Swinton e Hiddleston desfilando um charme quase blasé enquanto dormem e consomem seu tempo entre obras literárias, música e drinks de sangue conseguidos da forma mais limpa e segura possível. Leia mais
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