Em sua primeira grande cena no cinema, Rachel Weisz aparece seminua apenas com uma canga e óculos escuros à beira de uma piscina em “Beleza Roubada”. No filme de 1996, Bernardo Bertolucci está apaixonado por Liv Tyler, mas Weisz já demonstra força e deixa sua marca graças ao belo rosto arredondado, os olhos grandes e a voz marcante.
Não demorou muito para Hollywood descobrir e se apaixonar por Weisz, que aproveitou a chance para aparecer em todo tipo de filme. De mocinha em apuros em blockbusters (“A Múmia”) à protagonista de dramas de época (“Trazido pelo Mar”) e interesse romântico de comédias românticas (“Um Grande Garoto” e “Três Vezes Amor”), Rachel Weisz fez de tudo um pouco até ganhar o merecido reconhecimento em produções de grife (“Um Olhar no Paraíso”, “A Luz entre Oceanos”) ou trabalhando com grandes autores de várias nacionalidades.
A atriz emprestou sua beleza e talento para nomes como o americano Darren Aronofsky (no amado e odiado “A Fonte da Vida”); o chinês Wong Kar-Wai (no um tanto decepcionante “Um Beijo Roubado); o italiano Paolo Sorrentino (no elegante “Juventude”); o grego Yorgos Lanthimos (em “O Lagosta” e “A Favorita”); o chinelo Sebastián Lelio (“Desobediência”); o espanhol Alejandro Amenábar (no ótimo e pouco visto “Alexandria”); e até o brasileiro Fernando Meirelles (“O Jardineiro Fiel” e “360”).
Ainda que nunca tenha virado uma estrela de cinema na acepção de uma Julia Roberts ou Jennifer Lawrence, por exemplo, Weisz tem uma carreia consistente em (quase) todos os gêneros e consegue muito bem fazer parte de um grande elenco (“O Júri”, “Vigaristas”) ou ser o centro das atenções segurando um filme nas costas (“A Informante”, “Negação”).
Prestes a entrar no Universo Marvel em “Viúva Negra”, que estreia em abril, Rachel Weisz celebra, neste dia 7 de março, 50 anos no auge do seu talento. Eis meus 50 anos em 5 filme da atriz:
O Jardineiro Fiel (2005): Primeiro filme dirigido por Fernando Meirelles depois do sucesso de “Cidade de Deus”, o longa pertence a Rachel Weisz, que domina a tela sempre que aparece (infelizmente, a atriz só está presente, apaixonada, sexy e cheia de energia, na primeira parte da produção). Meirelles tenta replicar, sem sucesso, o estilo de “Cidade de Deus” nesse drama conspiratório sobre um diplomata (Ralph Fiennes) que investiga o assassinato da esposa (Weisz) na África. O cineasta parece estar mais interessado em apontar sua câmera frenética para a cultura africana, por vezes desviando da própria trama. Mas o filme tem o mérito te ter levado Weisz a ganhar o Oscar e outros prêmios importantes de atriz coadjuvante.
Amor Profundo (2011): Nesse drama que lembra, de certa forma, o ótimo “Fim de Caso”, Rachel Weisz vive uma mulher que abandona um casamento seguro com um homem mais velho para viver uma paixão avassaladora por um jovem militar (vivido por Tom Hiddleston). Claro que a escolha se mostra um erro, e o filme de Terence Davies se debruça em mostrar, mesmo que sem exageros, a queda dessa mulher. Emoldurado por um ambientação cheia de fumaças, espelhos, sombras e luzes, o longa faz proveito do rosto luminoso da atriz para mostrar os dramas e as transformações da personagem.
O Lagosta (2015) / A Favorita (2018): Rachel Weisz trabalhou duas vezes com o grego Yorgos Lanthimos, que consegue explorar o melhor da atriz em papéis que misturam comicidade e ridículo. No maravilhoso “O Lagosta”, Lanthimos pega um ótimo elenco bem diverso (Colin Farrell, Rachel Weisz, John C. Reilly, Léa Seydoux, Ben Whishaw, Olivia Colman), o roteiro misturado em ácido e a direção cirúrgica para questionar a obsessão da sociedade pelo encontro do “par perfeito”. Weisz é uma solteira hospedada em um hotel que precisa achar logo um parceiro antes de ser transformada em um animal. Em “A Favorita”, o absurdo e o bizarro não são tão evidentes, mas ainda assim a atriz se diverte, em meio a tramoias políticas e uma luxuosa encenação de época, como a amante de uma rainha (vivida com vontade por Olivia Colman) que perde seu posto para a novidade interpretada por Emma Stone.
Desconhecida (2016): Quem nunca pensou em ser outro, desapegar de tudo, pessoas, histórias e passado e começar uma outra vida completamente diferente? Neste filme interessante, Rachel Weisz interpreta várias mulheres em uma. A personagem abandona uma vida atrás da outra e segue em frente sem nunca olhar pra trás, até reencontrar alguém. Ora a personagem de Weisz parece ser uma mentirosa patológica, ora uma mulher carismática e inteligente, ora uma pessoa frágil fugindo de si mesma. O filme de Joshua Marston é quase como a personagem central, mudando do tom de suspense misterioso para um delicado estudo psicológico e virando uma produção independente desapegada de uma narrativa mais desenvolvida. Mesmo esquizofrênico, o longa levanta uma série de questões sobre identidade, sem a menor pretensão de respondê-las, e abre espaço para a atriz brilhar.
Desobediência (2018): Depois dos coloridos e musicais “Gloria” e “Uma Mulher Fantástica”, o chileno Sebastian Lelio aposta aqui em uma narrativa mais sóbria. O resultado é tão quadrado e hermético quanto os personagens dessa trama que se passa em uma conservadora comunidade judaica. Ainda que formalmente o filme seja pesado, Lelio continua voltando suas lentes para personagens “marginais”, aqui duas mulheres que se amam, mas não podem consumar esse amor graças às convenções dessa comunidade ortodoxa. Se a trama segue caminhos óbvios e a abordagem é um tanto distante, o chileno pelo menos entrega o longa nas mãos dos ótimos atores, incluindo uma envolvente Rachel Weisz em companhia de Rachel McAdams (em seu melhor papel) e Alessandro Nivola.
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