Michelle Williams apareceu para o mundo pela primeira vez na sci-fi vagabunda “A Experência”, de 1995. O papel era pequeno: ela interpreta uma espécie de mistura de alienígena com humano que logo ganha o corpo da então modelo Natasha Henstridge. A fama veio um pouco depois, no final dos anos 1990, com a série adolescente “Dawson’s Creek”, mas o reconhecimento artístico demoraria mais um pouco, até 2005, quando a atriz chamou a atenção (e recebeu sua primeira indicação ao Oscar) pelo drama “O Segredo de Brokeback Mountain”.
De lá para cá, a ex-promessa adolescente ganhou mais três indicações ao Oscar (“Namorados para Sempre”, “Sete Dias com Marilyn” e “Manchester à Beira-mar”) e trabalhou com uma variedade de grandes cineastas (Ang Lee, Martin Scorsese, Charlie Kaufman, Kelly Reichardt, Ridley Scott, Todd Haynes), abraçando o cinema independente, às vezes apelando para blockbusters (“Oz: Mágico e Poderoso”, “Venom”) e ganhando, merecidamente, praticamente todos os prêmios (Emmy, Golden Globe, SAG etc) por seu papel na minissérie “Fosse/Verdon”.
25 anos depois de seu pequeno papel em “A Experiência”, a atriz completa 40 anos nesse 9 de setembro como uma das melhores e mais respeitadas de sua geração. Eis meu 40 anos em quatro filmes de Michelle Williams:
O Segredo de Brokeback Mountains (2005) -Tem um flashback já quase no final do filme que mostra um gesto de carinho entre Ennis e Jack. É uma cena rápida e rara na trajetória de amor entre os dois. Mas o que poderia ser um drama pesado sobre dois homens apaixonados, em uma época e situação que não estão a favor deles, ganha um tom delicado sob a direção de Ang Lee. Com um ritmo lento e contemplativo, Lee filma sem julgamentos os encontros e desencontros dos dois em cerca de duas décadas, mostrando as consequências que um amor impossível causa em seus protagonistas e naqueles que estão ao seu redor. Amparado pelo ótimo elenco, Lee abre espaço para o não-dito por meio de gestos e olhares que causam muito mais impacto do que palavras. Michelle Williams tem um papel pequeno, de esposa de Ennis (Heath Ledger), mas faz o máximo com seu pouco tempo de tela, entregando uma atuação contida que guarda um vulcão de frustração e raiva por trás de sua expressão distante. A atriz recebeu sua primeira indicação ao Oscar como atriz coadjuvante e deixou para trás a fama de ídolo adolescente.
Namorados para Sempre (2010) – Michelle Williams e Ryan Gosling vivem nesse drama “romântico” um casal em dois momentos distintos de seu relacionamento: o início e o fim. Dirigido de forma avassaladora por Derek Cianfrance, o longa vai e volta no tempo para tentar mostrar os caminhos da relação que levaram do flerte em um ônibus para a violência física de uma briga em um hospital. O cineasta faz isso da maneira mais dura possível, nunca descolando a câmera do rosto dos dois atores, ambos dedicados a tornar a relação a mais real possível. O resultado é destruidor e triste.
Entre o Amor e Paixão (2011) – Michelle Williams é casada com Seth Rogen nessa mistura agridoce de drama com comédia romântica. Mas ela sente falta de algo novo e refrescante, algo que chega com um novo vizinho (Luke Kirby). O resultado é um novo dilema vivido pela personagem: deixar um amor estável e agradável para se aventurar por algo atraente, mas incerto? Dirigido com certa dureza por Sarah Polley, “Entre o Amor e a Paixão”, em certo sentido, parece estar julgando as escolhas de sua protagonista, mas Michelle Williams entrega uma de suas grandes atuações, revezando muito bem a apatia vivida ao lado do marido e o novo brilho no olhar que surge quando está ao lado do vizinho, como na linda cena que funciona quase como um videoclipe da música “Video Killed The Radio Star”.
Manchester À Beira-Mar (2016) – Casey Affleck age como um babaca em boa parte da duração desse drama devastador. Mas, ao ser revelado seu trauma do passado, entendemos que ele é apenas uma pessoa partida que não sabe superar a própria vida. O diretor e roteirista Kenneth Lonergan parece compreendê-lo e cria um filme triste como seu protagonista. Mas o longa não é um melodrama edificante, e o diretor filma tudo com um certo distanciamento muito bem-vindo. Já Casey Affleck abraça o personagem de uma forma que, realmente, é difícil para o espectador não colar em seu sofrimento, angústia e descolamento em relação ao mundo. Mais uma vez, Michelle Williams foi indicada ao Oscar como atriz coadjuvante por um papel pequeno, mas de destaque: ela vive a ex-esposa que tenta, mas não consegue fazer com que o ex-marido supere sua dor.
Bônus: Fosse/Verdon (2019) – A minissérie de oito episódios da FX não se decide entre fazer uma homenagem ao coreografo e diretor Bob Fosse (vivido de forma um tanto antipática por Sam Rockwell) por meio do seu relacionamento com a atriz Gwen Verdon ou focar nos problemas conjugais dos dois. Mas, ainda que irregular, a série tem um grande trunfo: a atuação de Michelle Williams, que demonstra em seu melhor papel um total domínio de seu corpo, voz e emoção. O resultado é que a atriz ganhou praticamente todos os principais prêmios de televisão: Emmy, SAG, Golden Globe etc.
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