
Apesar de já ter estrelado outros filmes, foi em 1996 que Ewan McGregor ganhou fama, mais precisamente correndo em “Trainspotting” ao proferir um dos discursos mais marcantes do cinema da década de 1990. No longa de Danny Boyle, com quem o ator já havia trabalhado no suspense “Cova Rasa”, McGregor interpretava um viciado em heroína.
Pálido e magro, o ator virou figurinha carimbada no cinema alternativo britânico, desfilando em produções tão ecléticas quanto no musical cheio de glitter “Velvet Goldmine”, na adaptação “Emma” (de Jane Austen) e no semiótico “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway.
Em 1999, McGregor se rendeu a um grande blockbuster pela primeira vez para viver ninguém menos do que o personagem clássico Obi-Wan Kenobi na nova trilogia “Star Wars”. Desde então, o ator se reveza entre papéis em produções menores (“O Jovem Adam”, “Toda Forma de Amor” etc) e filmes de grande orçamento (a sci-fi “A Ilha” e o live action de “A Bela e A Fera”), protagonizando várias bombas no meio do caminho (“Mortdecai – Arte da Trapaça”, “Jack, o Caçador de Gigantes” e “A Lista – Você Está Livre Hoje?”).
Ainda que já tenha feito de tudo no cinema, trabalhando, inclusive, com grandes autores como Tim Burton (“Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas”), Woody Allen (“O Sonho de Casandra”) e Baz Lurhman (“Moulin Rouge”, um de seus papéis mais icônicos), de certa forma, McGregor segue injustiçado pela indústria do cinema, nunca tendo sido indicado ao Oscar, por exemplo (o mais próximo que ele chegou foi com o musical de Lurhman).
Símbolo de uma geração e dono de uma filmografia bastante eclética, Ewan Mcgregor amadureceu, tirou a roupa sem pudor em vários filmes e já provou várias vezes ser um dos melhores atores da sua geração. O ator completa 50 anos nesse 31 de março prestes a reencarnar novamente Obi-Wan Kenobi para uma série da Disney Plus e com várias outras produções já engatilhadas.

Trainspotting (1996)
Há 25 anos Ewan McGregor era descoberto pelo mundo ao fugir da polícia proferindo um dos monólogos mais certeiros do cinema sobre o vazio da existência do ser humano consumista. Nesse meio tempo, a música, as drogas e o próprio mundo mudaram, como profetiza uma das personagens, mas não tanto assim. A premissa do filme que fala sobre drogas, HIV, cultura pop e o grande baque que é torna-se adulto e assumir responsabilidades continua atual e relevante. Com uma direção certeira, uma edição criativa e um ótimo roteiro baseado na obra de Irvine Welsh (única indicação do filme ao Oscar), Danny Boyle criou o retrato da juventude que amadureceu na primeira metade dos anos 90, tudo isso ao som da música eletrônica, do britpop e da eurodance que são a “cara” da época. A continuação de 2017 é linda e melancólica.

Velvet Goldmine (1998)
Esse filme é a realização do sonho cinematográfico de qualquer indie fã (todos?) de glam rock e brit pop. Com um roteiro inspirado levemente (ou não tão levemente assim) na relação entre David Bowie e Iggy Pop, Toddy Haynes dirige o longa com toda a afetação e glitter que a história pede, criando de quebra um retrato nostálgico e melancólico sobre uma época que mudou o curso da música pop nos anos 1970 (e da sociedade, por que não?). Com uma trilha sonora dos deuses, o filme ainda traz o elenco indie mais desejado por qualquer diretor (e espectador) no final dos anos 1990: Ewan McGregor, Jonathan Rhys Meyers, Christian Bale e uma maravilhosa e lindíssima Toni Collette.

Moulin Rouge (2001)
No geral, eu não gosto de musicais. O principal fator é a própria música, geralmente cafona, orquestrada e simplesmente ruim e desinteressante. Baz Luhrmann opta então por substituir a típica música chata desse tipo de filme por canções pop e cria uma obra-prima do gênero ao misturar com sucesso Madonna, Elton John, David Bowie, U2, Queen, The Police e mais uma penca de gente. O resultado é exuberante e vigoroso, cheio de cores, glitter, pumas e paetês. Ainda que a estética da produção seja a maior razão de seu sucesso, Baz ainda acerta na escolha dos protagonistas, uma Nicole Kidman e um Ewan McGregor soltando faíscas e no auge da beleza e talento. Apostando no caos, na breguice e no exagero, o cineasta usa uma câmera epiléptica e uma edição de videoclipe para esconder a trama bobinha com cara de novela das seis, um dos defeitos do longa (junto com o vilão caricato demais). Mas, 20 anos depois do seu lançamento, o filme sobrevive às suas imperfeições e é o grande musical do cinema contemporâneo (minha cena preferida é “El Tango de Roxanne”).

Toda Forma de Amor (2010)
Mike Mills é um diretor indie por excelência e usa praticamente todos os recursos desse cinema nesse drama de cores pastéis e bastante apegado à palavra. Em duas diferentes linhas narrativas que se intercalam, o cineasta foca suas lentes melancólicas no personagem de Ewan McGregor. No passado, ele precisa lidar com a doença terminal do pai e o fato dele (vivido com sensibilidade por Christopher Plummer, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante) ter se relevado gay recentemente. No presente, o ator se relaciona com a bela e francesa Mélanie Laurent. O longa nem sempre acerta o tom problemático dos personagens (os conflitos amorosos entre McGregor e Laurent não são espontâneos, por exemplo), mas fica difícil resistir ao charme do filme, principalmente nas cenas em que McGregor conversa com o cachorro herdado do pai.

Sentidos do Amor (2011)
Um dos casais mais bonitos do cinema recente, Ewan McGregor e Eva Green vivem um romance nesse filme estranho sobre uma pandemia que acomete a humanidade e faz com que ela vá perdendo os sentidos aos poucos. Sem dar nenhuma resposta ao espectador ou se render a um final feliz, o longa ora adota um tom poético, existencialista e filosófico, ora um tom nervoso e tenso para mostrar como nossas vidas estão atreladas aos nossos sentidos. Apesar dos gatilhos, ainda mais agora em uma pandemia real, o filme sempre recorre à esperança e a capacidade do ser humano de seguir em frente e se adaptar. O resultado é bonito e melancólico.
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