
Antes de mais nada, a segunda temporada de “The White Lotus” não é melhor do que a primeira. Ainda que siga a mesma estrutura da anterior (ou talvez mesmo por isso), falta a essa segunda trama o frescor e a acidez da primeira, focada na hipocrisia, preconceitos e privilégios que ditam a separação entre as classes sociais.
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Em um outro resort da mesma cadeia (localizado agora na Sicília, Itália) e com um novo elenco (com exceção de Jennifer Coolidge repetindo a desvariada e excêntrica Tanya), a segunda temporada deixa um pouco de lado (mas não tanto assim) a questão do dinheiro para focar mais no que move a relação entre homens e mulheres e o jogo de poder e de manipulações por trás de atrações sexuais e amorosas.
Mas, mesmo não sendo superior à tensa primeira temporada, “The White Lotus” continua sendo um dos melhores programas da TV norte-americana. A culpa é de Mike White, criador, roteirista e diretor da série, o homem por trás também da genial “Enlightened” (série de duas temporadas protagonizada por Laura Dern e pelo próprio White). Dono de um humor sagaz e especialista em escrever ótimos diálogos e criar situações bizarras, é graças a White que “The White Lotus” funciona tão bem.

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Também girando em torno da questão “quem morreu?” (aqui de forma bem mais enfática do que na temporada anterior), a segunda temporada de “The White Lotus” se divide entre alguns personagens que vão passar as férias em um hotel de luxo na Sicília. Temos dois casais de amigos completamente diferentes, uma família de homens brancos ricos em busca de seus ancestrais, Tanya e o marido (que ela conheceu no resort do Hawai) e sua assistente, duas prostitutas, a gerente caretinha do hotel e mais um bando de gays obcecados por Tanya.
É por meio desses personagens que Mike White estabelece em sete episódios (um a mais do que na trama anterior) o mistério da temporada e questiona vários comportamentos corriqueiros de nossa sociedade, em especial a masculinidade tóxica passada de geração para geração. Com uma bela direção que sabe explorar muito bem as belas paisagens da Sicília e a tensão entre as relações dos hóspedes e dos funcionários, a trama flui muito bem, dando espaço para que todos os personagens mostrem suas verdadeiras facetas.

Com um bom ritmo, a série ainda é uma delícia de acompanhar, com várias ótimas cenas que ganham ainda mais dimensão graças ao talento do elenco. Além de Jennifer Coolidge, mais uma vez o destaque é o elenco feminino, em especial as ótimas Aubrey Plaza e Meghann Fahy, como as esposas completamente diferentes de dois amigos; a italiana Sabrina Impacciatore, que vive a gerente nervosa do hotel; e Simona Tabasco, como uma garota de luxo que sabe manipular os homens. Na ala masculina, o elenco correto traz o oscarizado F. Murray Abraham (“Amadeus”), Tom Hollander e os gostosões Theo James e Will Sharpe, apenas dois dos corpos sexualizados pela série, que não se intimida em voltar o olhar da objetificação para os homens.
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O ótimo desenvolvimento e ritmo perde um pouco de sua força no episódio final da série, com muita coisa acontecendo e sem grandes surpresas (ainda que a cena das mortes seja muito bem-feita e a série não deixe de seguir um rumo de certa forma corajoso, mesmo que um tanto óbvio). De qualquer forma, “The White Lotus” já deixa um gostinho de quero mais criando expectativas para a já confirmada terceira temporada, em um novo local e com novos personagens prontos para provar que ninguém é realmente normal.
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