Hollywood está cheia de filmes que tratam bandidos como anti-heróis, fazendo com que o público torça por eles. Esse “Eu me importo” (disponível na Netflix) começa bem fugindo dessa estratégia e fazendo o espectador odiar a personagem de Rosamund Pike, uma trambiqueira que usa de fragilidade de idosos para interná-los e roubar o dinheiro deles.
Essa comédia ácida começa com um ótimo discurso de Marla (Pike), que afirma que o mundo é feito de leões e cordeiros e que ela não nasceu para perder. Seguindo uma linha parecida com “O Tigre Branco”, o longa reforça a ideia de que o sistema corrompe o homem e a única forma de vencer, se você já não nasceu vitorioso, é burlando as regras.
Com uma boa edição e direção, a produção estabelece seu tom e ritmo fazendo uso da ótima interpretação de Rosamund Pike (“Garota Exemplar”). É uma pena, no entanto, que o roteiro, em algum momento, resolva apostar no óbvio e transforme Marla em uma anti-heroína ao enfiar, de forma nada sutil, a máfia russa no meio da trama.
A partir dessa virada, o filme perde um pouco a pegada de comédia e crítica ácida à sociedade capitalista e abraça uma narrativa de thrillers que nem sempre funciona. Quando o final chega apelando para uma resolução moral que o roteiro já parecia ter abandonado, o longa desmorona graças a um desfecho forçado e preguiçoso. Ainda assim, “Eu me Importo” é divertido e vale, principalmente, por Rosamund Pike, que foi merecidamente indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz comédia.
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