
“The First Lady” tinha tudo para seguir os passos de “Mrs América” e lançar as câmeras para o importante papel de mulheres na política, aqui especificamente dentro da Casa Branca. Com três das melhores atrizes que Hollywood já lançou (Viola Davis, Michelle Pfeiffer e Gillian Anderson), a minissérie conta um pouco da história dos EUA sob a ótima de três mulheres de presidentes de diferentes épocas, misturando o contexto social e político com as questões pessoas que atravessam essas personagens históricas.
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Mas é uma pena que praticamente tudo em “The First Lady” pareça fora do lugar. Primeiro, a própria estrutura da minissérie trabalha contra ela mesma, indo e voltando no tempo sem muita lógica para mostrar essas três histórias e perspectivas de vida diferentes. Sem a menor criatividade e de maneira didática, o programa tenta costurar as histórias e criar paralelos entre elas. Infelizmente, não dá certo e cada episódio parece contar uma trama isolada, sem nenhum desenvolvimento da história ou mesmos das personagens.

Parte do problema da minissérie é o texto atolado de clichês e chavões, com um desfile de temas polêmicos (racismo, homossexualidade, alcoolismo, câncer, sistema público de saúde, corrupção, refugiados) tratados de forma superficial e ligeira. A direção de Susanne Bier (de “Bird Box” e da minissérie “The Undoing”) também não ajuda, tornando o texto ainda mais pesado em meio a uma encenação melodramática e novelesca. É como se a diretora não soubesse trabalhar com as nuanças e delicadezas da língua inglesa, já que seus melhores trabalhos estão na sua língua natal dinamarquesa.
Com tudo pesando contra, da abordagem à produção, dos atores coadjuvantes que escorregam mais ainda nos diálogos à trilha sonora edificante, sobra pouco para Davis, Pfeiffer e Anderson fazerem. Das três, Michelle Pfeiffer é a que se sai melhor vivendo Betty Ford. A atriz consegue fugir das armadilhas do texto e cria um retrato complexo de uma mulher que não queria que o marido fosse político. Com a voz doce e firme, Pfeiffer mistura fragilidade, força e desequilíbrio, mostrando a fraqueza da personagem para bebidas e a frustração de uma mulher que tinha vida própria antes de se casar com o futuro vice-presidente (e presidente depois da renúncia de Richard Nixon) Henry Ford.

Com uma ambientação ainda mais pesada do que as outras duas histórias, Gillian Anderson (vivendo Eleonor Roosvelt) é que se sai pior, carregando nos maneirismos e não sabendo dosar o tom edificante e heróico que o roteiro atribui às personagens. Já Viola Davis tenta transformar Michelle Obama em uma pessoa, mas as limitações do texto engessam sua interpretação que fica na linha tênue entre a caricatura e a mímica. Com vasto material audiovisual disponível de Obama, por ser uma figura da contemporaneidade, Davis acaba sendo o alvo mais fácil de comparações, o que compromete sua interpretação.
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Episódica e cheio de saltos temporais que parecem gratuitos (os flashbacks das três personagens jovens existem apenas para reforçar o comportamento de suas versões adultas), “The First Lady” é uma promessa que não se cumpre, mais parecendo uma colagem perdida de momentos melodramáticos do que uma narrativa coerente. A narrativa é fácil de assistir e as personagens são envolventes e realmente mulheres complexas e interessantes. Mas a realização beira a ingenuidade, apostando forte no piegas e no clichê, pouco revelando ainda sobre quem eram/são essas mulheres que, cada uma a seu modo, fizeram parte da história dos Estados Unidos.
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