Andra Day pode ter levado o Golden Globe de melhor atriz dramática, mas ela não salva “Estados Unidos Contra Billie Holiday” de ser mais uma cinebiografia genérica de um ídolo da música. A atriz/cantora está bem e emprega força e intensidade a uma personagem trágica, mas o filme ao seu redor vai na contramão de sua atuação e opta pela apatia.
A culpa é de Lee Daniels. O diretor pode ter deixado de lado os arroubos exagerados de “Preciosa” e “Obsessão”, mas o tom que ele emprega ao longa é burocrático e pálido como o do péssimo “O Mordomo da Casa Branca”, com várias mudanças aleatórias de abordagem que nunca parecem combinar entre si (romance, melodrama, drama político, musical e por aí vai).
O resultado é uma bagunça com um roteiro que pouco desenvolve os personagens, sobretudo os coadjuvantes que mal registram em cena, e vai amontoando uma situação atrás da outra da forma mais atropelada possível. Com um ritmo arrastado, uma duração excessiva e escolhas estéticas e narrativas para lá de duvidosas, fica difícil se importar pelo filme, ainda que Andra Day tente a todo custo manter o interesse do espectador jogando uma luz na vida atormentada de Holiday, cheia de drogas, homens abusivos e problemas com um governo que não esconde o seu racismo.
Apesar das belas canções e do esforço de Day em emular a voz de Holiday, o excesso de momentos musicais parece cumprir apenas o papel de tentar salvar o longa e costurar a trama confusa. Além da boa interpretação de Day, restam também os belos figurinos da cantora. Mas isso é muito pouco para sustentar um longo com mais de 2 horas de duração sobre uma figura com uma história tão rica e sofrida.
Leia também:
Judas e o Messias Negro
Eu me importo
Relatos do mundo
Nomadland
Pieces of Woman